Contradição fundamental?
No período histórico, conhecido como Antiguidade Clássica, Aristóteles, um grande expoente dessa época, afirma que o homem é um animal político por natureza, pois é um ser que precisa dos outros para viver, na medida em que, necessita de coisas que não estão ao alcance da sua produção individual, portanto se organiza em comunidades, no caso específico, a pólis grega. E completa dizendo que quem está fora da comunidade ou é um ser degradado ou um ser divino. Em outras palavras, o que obriga o ser humano a viver em sociedade é a necessidade de algumas coisas que não consegue produzir sozinho, dessa maneira o humano é um ser político por natureza porque precisa se relacionar com os outros para suprir suas necessidades.
Concordemos ou não com Aristóteles, seu pensamento influencia a forma como vemos o mundo nos dias de hoje. Precisamos nos relacionar pelo simples fato de não sermos capazes de vivermos sozinhos, e por isso nos agrupamos para satisfazer as nossas necessidades, sejam materiais ou espirituais. Na Antiguidade a manutenção das comunidades era a condição última de sobrevivência, e a busca pelo bem comum era o objetivo central. Só não podemos esquecer de que a sociedade grega clássica era escravista, e apenas os cidadãos (homem livre com mais de 25 anos e proprietário de terras) participavam ativamente da política.
Nos dias atuais continuamos a viver em agrupamentos humanos cada vez maiores, nossas carências materiais continuam a ser satisfeitas na relação com os outros, o trabalho escravo lamentavelmente continua sendo usado em nossa sociedade, porém nossa noção de comunidade se reduziu aos familiares próximos, com os quais nos importamos ainda por um laço de moralidade, vivemos a sociedade do “salvem-se quem puder”. O bem comum se tornou um discurso vazio, restrito aos meios religiosos e a discursos pré-eleitorais; na prática isso não se aplica em nossa sociedade. Essa é uma das grandes contradições da sociedade contemporânea; Como podemos viver em sociedade e precisar de uns dos outros, se quando pensamos nela é através da perspectiva do individualismo?
O mundo em que vivemos é cheio dessas contradições, aliás, ele é construído sobre essas contradições, reconhecê-las é tarefa urgente para aqueles que pretendem pensar a sociedade para além daquilo que vivemos hoje. Toda a transformação social deve ser pensada através da superação de suas contradições.
Como superar essa contradição? Não tenho a menor ideia! Por isso deixo aqui a pergunta para que possamos coletivamente buscar soluções para esse grande problema do mundo moderno.
Como podemos continuar vivendo em imensos aglomerados humanos, precisando uns dos outros para satisfazer nossas necessidades materiais e espirituais, se estamos nos tornando cada vez mais individualistas?
Para essa pergunta o mundo nos dá a resposta todos os dias através dos noticiários. Grande parte da população mundial vive em extrema pobreza, segundo a ONU 800 milhões de pessoas passam fome. Isso representa 4 vezes a população do Brasil. Uma em cada três pessoas no mundo não tem acesso a saneamento básico, isso significa que 1 terço da população mundial não possui água e esgoto em casa. Mais de 1,1 bilhão de pessoas no mundo vivem com menos de um (1) dólar por dia. Sem contar as guerras e epidemias que obviamente afetam com maior intensidade os mais pobres. O mais grave é que esses números só aumentam.
Provavelmente você que está lendo esse texto não faz parte de nenhuma dessas estatísticas do parágrafo anterior. Será que não é hora de refletir sobre isso? Que mundo você quer para seus filhos, netos e bisnetos?