A carne e o gado
Vivemos tempos estranhos. No Brasil das redes sociais é mais importante se posicionar frente a um assunto do que compreende-lo. A mais nova polêmica é a operação da polícia federal, denominada “carne fraca”, que investiga os maiores produtores de carne do país, segundo matéria publicada no portal vermelho.org, foi apresentado um relatório de mais de 300 páginas que apontam indícios de irregularidades praticadas pelos frigoríficos, que vão desde o descumprimento de normas sanitárias, até corrupção ativa entre empresas e servidores do Ministério da Agricultura, e seus padrinhos políticos do alto escalão do governo federal.
Todas as vezes em que vemos uma notícia precisamos sempre refletir muito sobre ela, e tentar buscar o máximo de informações sobre o tema, para não sermos enganados por simples conclusões lógicas. Hoje em dia, a pesquisa sobre qualquer tema é muito facilitada pela internet e seus famosos buscadores, porém, a quantidade de informações sobre o tema nós leva ao erro fatal, acreditar em tudo que lemos ou vemos em vídeos e transmissões ao vivo facilitadas pelas redes sociais.
E nesse momento a carne sai de cena e entra o gado. Antes mesmo de ler e pesquisar rapidamente sobre o tema nós humanos educados pela mídia, somos impelidos como que automaticamente, a nos posicionar frente ao tema e a replicar e compartilhar noticias que não foram lidas.
O gado brasileiro, em frente ao computador, não reflete, não pensa e nem pesquisa nada; começa a tecer comentários sobre tudo. Esse fenômeno cria uma avalanche de mentiras que servem aos interesses daqueles que orientam essas matérias. Nesse caso em particular, a notícia sobre a investigação já se transforma em condenação cega de uma das partes. Esse fenômeno de “manada” serve a interesses que estão por trás da aparente neutralidade da informação.
Algumas perguntas devem ser feitas para que não nos comportemos como gado:Qual o interesse que a polícia federal tem em divulgar uma investigação que não chegou a sua fase final? Porque fazer uma coletiva de imprensa com informações não apuradas? Será que isso é função da Polícia Federal? Qual o interesse de acusar empresas sem a comprovação de laudos da vigilância sanitária? Existia na entrevista alguma autoridade da área de saúde pública? O que sabe sobre processos produtivos e procedimentos da vigilância sanitária um delegado que tem sua formação na área jurídica e não de saúde? Por que a PF não esperou mais tempo para colher as informações e nos informar de maneira definitiva sobre o tema?
Essas e outras perguntas deveriam ser feitas, antes de tecermos qualquer comentário sobre o tema. Os desdobramentos dessa notícia refletiram em perda de mercado por parte do Brasil, cancelamento de contratos e provavelmente a demissão de muitos trabalhadores como consequência disso. Se a carne está impropria para o consumo e não segue as normas adequadas para produção, que estas empresas sejam responsabilizadas e que se prove de fato que estavam em situação irregular, mas a PF preferiu divulgar informações não conclusivas, em outras palavras, pura especulação.
O que podemos concluir do caso da carne? Simplesmente que a PF colocou todo um segmento industrial em risco, em um país arrebentado politicamente. Os grandes frigoríficos dos outros países produtores de carne no mundo estão comemorando mais essa trapalhada da PF, que de maneira muito irresponsável aponta culpados sem provas e o dito se transforma em verdade por força da repetição. Assim é com a carne dos animais e dos homens.